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O teletransporte, termo cunhado no início do século XX para a capacidade de levar matéria de um ponto a outro sob a forma de energia, por meio de um canal de comunicação, de forma quase instantânea, habita em nossas mentes como ficção apoiada em livros, séries e filmes, em especial após o lançamento de Star Treck nos anos de 1960. Afinal, ali se realizava, mesmo que no plano imaginário, o desejo de se equiparar ao divino, e à onipresença que Lhe é atribuída.
Quanto mais sofisticado o aparato tecnológico utilizado no ambiente ficcional, quanto mais elementos vinculados à nossa realidade e ao alcance do nosso conhecimento científico, mais tangível nos parecia esse universo da ficção.
Uma pausa neste tema, e vamos nos “teletransportar” para outro foco na evolução da ciência e da tecnologia. Quando nos anos 1980, Charles Hull, entre outros, criou as primeiras impressoras 3D, certamente seu objetivo era viabilizar a criação de protótipos, antes analisados como elementos gráficos, dando aos mesmos reprodução tridimensional para melhorar a capacidade de análise pelos engenheiros de produto.
Ainda que vislumbrasse um novo mercado para sua criação, provavelmente não fazia ideia de como essas impressoras se tornariam populares e acessíveis, nem o grau de variedade incrível de produtos que poderiam ser gerados por ela.
Percebemos todos a importância das impressoras 3D no início da pandemia da COVID-19. Subitamente, a falta de respiradores e protetores faciais se mostrou o impulso para que empresas e universidades se juntassem, no esforço de produção de partes e peças desses equipamentos, viabilizando por meio das impressoras 3D, atender à enorme demanda emergencial surgida naquele momento. Um salto enorme se deu nesses últimos 40 anos, e hoje se compra equipamentos de impressão de produtos por 200 dólares para ter em casa, produzindo-se amplo espectro de itens. E é aí que as duas histórias se misturam.
Porque de repente, posso ser um produtor de bichinhos de plástico para crianças e o que vendo, na verdade é um software para impressoras 3D imprimirem meus produtos na casa do consumidor !
Ainda que não seja a mesma coisa, claro, há aqui um interessante paralelo com a possibilidade de teletransportar os bichinhos, do ponto em que foram “criados” para o local onde serão “consumidos” não acha? Com o tempo, mais e mais matérias primas distintas vão se tornando adequadas para uso visando a impressão 3D, tais como plásticos diversos, metais, cerâmica, vidro, comidas (como queijo e chocolate, por exemplo) e até tecidos biológicos para enxertos em humanos.
A complexidade do produto final vai também se ampliando, à medida que as impressoras possam trabalhar com alimentação de materiais diversos, cores distintas, maior precisão, e passa-se a contar com softwares que decompõem um produto final em partes e peças, a serem impressas e depois montadas para gerar o item desejado.
Apesar de vermos nas impressoras 3D uma revolução tecnológica e fabril, há também, em paralelo, uma revolução na logística. Produtos que deveriam transitar, deixam de fazê-lo, e a distribuição torna-se “invisível”, por meio das redes de comunicação, em outras palavras, via internet, num bom paralelo à ficção cientifica do teletransporte.
Se pela ótica da manufatura, há ganhos quanto à redução de sobras e refugo, e uma redução absurda de custos na prototipação, a economia em transportes é também muito significativa, mesmo se considerarmos o incremento na demanda para a distribuição das matérias primas utilizadas na impressão 3D, que precisam estar disponíveis nos pontos de consumo, sejam profissionais ou domésticos. Em tempos de preocupações sobre ESG (ponto que abordaremos em outro artigo), este não é um ponto irrelevante, muito pelo contrário.
No aspecto “Social” do ESG, um novo mercado se abre para a venda de produtos criados em casa e que podem ser vendidos na vizinhança, empreendimentos de baixo custo no qual há muitas oportunidades sendo geradas.
De certa forma, um bom comparativo pode ser feito com o consumo de alimentos e o mercado de refeições prontas, que explodiu também no período mais agudo da pandemia: pessoas comprando alimentos (matéria prima), preparando as refeições (processo fabril caseiro que reúne, os materiais, o planejamento e preparo das refeições), e vendendo e distribuindo o resultado.
Há também um mercado ainda em maturação que equivale, de certa forma, ao conceito dos CD´s urbanos, ou seja, trazer produtos em volume para perto do ponto de consumo, ficando a última milha para a distribuição de pequenos lotes. No caso da impressão 3D, o que se vê são empresas que se estruturam em torno da geração de software e produtos, bem como o seu marketing de venda, e que apoiam pequenos empreendedores locais a montarem uma central de impressão 3D para atender aos pedidos recebidos, que dessa forma podem ser entregues em tempos que o mercado tradicional de distribuição não teria condições de replicar.
Aquele presente que eu precisava ter comprado e esqueci, para levar a uma festa de aniversário, daqui a uma hora, estará em minhas mãos a tempo de atender o desejo de presentear o aniversariante.
E, claro, espera-se que a virtual eliminação do percurso entre origem e destino, permita uma redução de custos, fazendo que, ao contrário do que temos hoje, a entrega “urgente” não represente necessariamente um custo mais elevado. Muitas são, ainda, as dúvidas quanto a este mercado e aos processos logísticos envolvidos.
A capacidade de produção industrial de grandes volumes implica numa redução dos custos que compensa a custo agregado pelo transporte, de forma que apenas os produtos a serem demandados em menor volume, itens personalizados ou únicos terão na impressão 3D um modelo campeão. Por isso mesmo, um mercado também em ascensão é o de software para modelar produtos a serem impressos, algo similar à venda de software nas lojas digitais de nossos celulares.
Ainda não temos a impressão de itens feitos de madeira, papel ou tecidos, mas, com certeza, no momento em que estou escrevendo, há cientistas e engenheiros buscando soluções para viabilizá-los como matérias primas para as impressoras 3D.
Seja sob a ótica industrial ou da logística, certamente estamos vendo quebras contínuas de paradigmas, e a impressão 3D é tanto um método fabril inovador, como um modal de transporte revolucionário. Quem sabe quais novidades estarão a caminho, migrando da ficção para o nosso dia a dia? Vamos acompanhar, vamos fazer acontecer !
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Engenheiro eletrônico e analista de sistemas, é Diretor da Unidade GKO da Senior Sistemas, e trabalha com soluções de software para logística e transportes há mais de 30 anos.
É verdade...!!!
Da ficção à realidade...!!!
Quando se imaginou tanta tecnologia à altura das necessidades de uma população tão carente ???
Hoje já se imagina e se curte toda evolução disponibilizada à logística como uma ferramenta que viabilize ainda mais a sua eficácia empresarial...
Parabéns pelo brilhante artigo...