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A maioria de nós já se acostumou a usar a sigla ESG (Environment, Social, Governance) no dia a dia de nossos negócios.
O impacto dessas três letras se espalha pela totalidade do mercado, fazendo com que empresas que as levem em consideração em suas políticas e estratégias sejam vistas de forma diferenciada, ainda que, de acordo com pesquisas recentes, isso ainda não tenha se traduzido em uma correlação 100 % segura de que empresas mais comprometidas com ESG tenham suas ações melhor avaliadas.
O que tem se mostrado como tendência, entretanto é que este compromisso, em especial no longo prazo, permitiria uma expectativa de geração de lucros mais consistentes nos próximos 5 a 7 anos.
Feita essa pequena introdução, de que forma o mercado de transporte de cargas é afetado pela preocupação com o meio ambiente, o meio social e a governança das empresas?
Mais especificamente ainda, como as empresas que contratam transportes podem (ou devem) levar em conta a questão ESG na condução da sua atividade logística?
De uma forma geral, vemos muito claramente a relação do transporte com a questão ambiental, uma vez que calcula-se em 16 % sua participação na geração de gases de efeito estufa. Ressalte-se ainda que ¾ desse total é fruto do transporte rodoviário, o que, ao se considerar a matriz de transporte brasileira, na qual 65 % da carga transita neste modal, traduz-se em impacto ambiental muito significativo. Essa equação se agrava, à medida que se tem frota envelhecida e manutenção precária, algo que sucessivas crises econômicas têm aprofundado no cenário brasileiro.
Além da pegada de carbono, os riscos ambientais se ampliam em função de acidentes, demandas de limpeza e manutenção, geração de refugo por mal manuseio ou falhas no transporte
Com isso, podemos estabelecer que para o contratante de transporte, a preocupação com o meio ambiente se traduzirá em ações que levem a: - otimizar o uso de frotas, reduzindo espaços ociosos e melhorando roteiros para reduzir percursos. - avaliar e ampliar o uso de modais alternativos, menos poluentes e que gerem menos riscos ambientais - estimular a renovação de frotas dos fornecedores de transporte - mapear riscos e estruturar ações emergenciais em caso de acidentes - particularmente no caso da última milha, aproveitar e estimular modelos de entrega que privilegiem a economia ambiental, evitando sempre que possível, trafegar em ambientes urbanos.
Claro que nenhuma destas ações pode ser tomada unilateralmente, exigindose ao contratante de fretes uma parceria bem estabelecida com seus fornecedores de transporte, que auxiliarão na execução dos planos de ação a partir das premissas acima.
Ferramentas de gestão de fretes podem e devem apoiar o acompanhamento por parte dos embarcadores de suas pegadas de carbono, viabilizando eventual compra de créditos de carbono como medida compensatório, oferecendo a possibilidade de tornar mais “verde” a logística da empresa.
Além disso, estas ferramentas podem ser também fundamentais em outros aspectos, particularmente na busca permanente de redução de ociosidade e na viabilização de rotas circulares ou que assegurem o frete retorno.
Em especial no e-commerce e na distribuição intra-urbana, entregas realizadas em bicicletas ou patinetes, elétricos ou não, ou mesmo entregas a pé, se somam às estratégias de pontos de coleta, que precisam da pressão das empresas embarcadoras para serem utilizados mais amplamente.
Mas nem só de meio ambiente vive o ESG, e podemos estender nossa avaliação também ao impacto sobre o social, com o qual empresas responsáveis devem se preocupar. Neste aspecto, temos desde a questão da abrangência geográfica na matriz de entregas, evitando áreas de exclusão, passando pela segurança do transporte quanto a acidentes (não é apenas a carga que pode ser perdida, mas também, muito mais relevante, vidas podem estar em jogo).
Outro aspecto que vem ganhando relevância é a forte utilização de dados pessoais sobre os consumidores que fazem parte da administração logística dos transportes, cuja segurança tornou-se objeto legal, por meio da LGPD.
Há ainda itens que, os contratadores de transporte podem direcionar de forma positiva sob a ótica social, ao pressionarem fornecedores de transporte a terem maior aplicação de esforços e recursos para desenvolver seus profissionais, buscarem maior paridade entre gêneros, agirem de forma responsável quanto às comunidades vizinhas, entre outras ações.
A criação de KPI´s vinculados aos pontos acima pode dar maior clareza para seu acompanhamento pelos embarcadores, que podem e devem trabalhar visando sua contínua melhoria.
Finalmente, governança em transportes envolverá especialmente as questões éticas, às quais daremos visibilidade quanto maior for a transparência e objetividade na contratação dos fretes, e no estabelecimento das regras que definem o relacionamento responsável entre transportador e embarcador. Temos observado uma melhoria significativa do ambiente corporativo no mercado de transportes, em especial quanto a utilização de meios ilícitos (corrupção) para a sedução das empresas (ou pessoas) compradoras.
O grau de profissionalismo das empresas de transporte, bem como de sua contraparte nas empresas embarcadoras tem crescido em função de um mercado mais competitivo, moderno e melhor provido de ferramentas, como as que se direcionam à auditoria, simulações e leilões de fretes.
Apesar da grande crítica às intervenções governamentais no ambiente de transportes de carga, há de se reconhecer a validade de alguns dos mecanismos implementados pelo governo como a regulamentação do mercado de meios de pagamento aos transportadores autônomos e equiparados, que afeta não apenas a governança, mas também impacta no âmbito social aos trabalhadores que prestam serviços de transporte.
Ter uma gestão mais clara que permita ao embarcador assegurar o uso dos meios de pagamento legais é algo que deve ser também perseguido entre as diversas soluções propostas para a sua operação logística. Em síntese, vemos que o embarcador tem grande responsabilidade no que tange ao compliance ESG, podendo ter neste esforço uma ferramenta que possibilite simultaneamente uma gestão mais moderna e eficaz, e um resultado positivo em termos financeiros e de imagem junto a seus consumidores, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas. Embarcadores e transportadores precisam atuar em conjunto para que as novas exigências impostas pelo mercado sejam atendidas, transformando esforços e custos, em investimentos para gerar oportunidades de melhorias ambientais, sociais e éticas
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Engenheiro eletrônico e analista de sistemas, é Diretor da Unidade GKO da Senior Sistemas, e trabalha com soluções de software para logística e transportes há mais de 30 anos.
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